quinta-feira, 23 de abril de 2009

Vestígios de Solidão

*
A cada gota de chuva
que me escorre pelo rosto
há uma lágrima viúva
de solitário desgosto.

*
A dor pode não ser grande...
estar só não é mau assim,
mas por onde quer que eu ande
eu sinto você sem mim.

*
A solidão ficou muda
quando se viu tão sozinha...
...nem pode pedir ajuda
da carência que é só minha.

*
Às vezes leio e releio
antigas juras de amor
e a solidão, de permeio,
aguça as notas de dor.

*
Como à noite ainda é dia,
pergunto ao meu coração:
são meus sonhos, fantasia,
ou somente solidão?

*
Digo-te "adeus" e sozinha
vou curtindo a solidão
que, dessa vez, é só minha,
solitário coração.

*
Do silêncio ouço os passos,
ao longe, longe lá fora,
perdendo-se nos espaços
do amor que se foi embora.

*
Em meio a tantas promessas
resolvi escolher uma
do amor que a mim professas...
... mas não havia nenhuma.

*
Enquanto não adormeço,
enquanto a noite não vem
fecho meus olhos... e esqueço
de que não tenho ninguém.

*
Janelas todas abertas
mas a casa está escura
e eu em passadas incertas
caminho minha loucura.

*
Nesse mundo, nessa vida
onde a história me esqueceu,
sou só a sombra perdida
de alguém que nunca fui eu.

*
No meu cantinho de amor
eu vim brincar de saudade
não encontrei nem a dor
da solidão de verdade.

*
O ruído dos teus passos
no cascalho do jardim
me lembram que os teus braços
já se esqueceram de mim.

*
O vento soprando as folhas
que já de há muito caídas
remexem antigas escolhas
ainda não esquecidas.

*
Ouço notas reticentes
no vazio de minh'alma
e silêncios contundentes
de um amor que não se acalma.

*
Nesse mundo, nessa vida
onde a história me esqueceu,
sou só a sombra perdida
de alguém que nunca fui eu.

*
Pergunta o meu coração
que de dúvidas se invade:
se não fosse a solidão
que seria da saudade?

*
Silêncio, mente vazia...
eu me pergunto, por que?
Sei lá se era o que eu queria
pra só pensar em você.

*
Quando me sinto sozinha
no meio da multidão
percebo não ser só minha
minha própria solidão.

*
Sozinha, na madrugada,
nem grilos ouço lá fora,
só um suspiro, mais nada,
da noite que vai embora.

*
Sozinha em minhas ausências,
num mar sem princípio ou fim...
cansada de reticências,
mergulho dentro de mim.

*
Tentando esquecer teus passos
no cascalho do jardim
nem me lembrei que teus braços
já se esqueceram de mim.

*
Terra em baixo, Céu em cima...
...já nem me lembro porque,
meu corpo esqueceu a rima,
mas nunca esqueceu você.

*
Um deserto de saudade
tentei regar com meu pranto
tentei, mas na realidade
só fiz crescer desencanto.

*
Não há mais dor, nem desencanto
no amor que ficou pra trás
Faz tempo, e o tempo é tanto
que o tempo não conta mais.

*
Na saudade onde deixei
vestígios do meu passado
está o quanto te amei
quando eras meu namorado.

*
Sou como um saco vazio
das esperanças que tive
descendo um resto de rio
num sonho que ainda vive.


Uma história de amor...
*
"Se ela morrer ele morre
como o ganso da Neném**,
e se o amor ninguém socorre,
sozinho, morre também".

**D. Neném, Chiquinha, minha avó Francisca.
A história é verdadeira. Parece que os gansos
não aguentam a solidão e a perda.

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